"A degradação do capitão Dreyfus"
"Perdoam-se os crimes individuais, mas não a participação num crime colectivo. A partir do momento em que o soube anti-dreyfusard, ela pôs entre eles continentes e séculos. O que explica que a uma tal distância no tempo e no espaço, a sua saudação tenha parecido imperceptível ao meu pai e que ela não se tenha lembrado de um aperto de mão e de algumas palavras, que não poderiam ter franqueado os mundos que os separavam."
"Du côté de Guermantes" (Marcel Proust)
Madame Sazerat mudou drasticamente de opinião sobre o pai do narrador, e, apesar de ser uma pessoa amável em extremo, não pôde deixar de lhe mostrar que não lhe perdoava as suas ideias políticas.
Neste caso, todo o partido a favor da revisão do processo de Dreyfus (a cumprir pena na Ilha do Diabo) não se sentia apenas num dos lados do "hemiciclo", mas na única posição conforme à justiça, o que exacerbava consideravelmente o zelo político. Estará aqui, talvez, uma das raízes da subjectiva superioridade moral da esquerda...
E entendo assim a ideia de que é mais fácil perdoar o crime individual. Para este, com efeito, podem encontrar-se atenuantes de todo o tipo na vulnerabilidade do indivíduo, que raramente justifica ideologicamente o seu crime, ao contrário da outra espécie de crime, em que o próprio colectivo nos dá uma aparência de força e de razão.
Por auto-defesa, isso geralmente desperta em nós qualquer coisa de parecido com a má-vontade e o preconceito, aqui, naturalmente, saudáveis.
1 comentários:
oi, adorei o seu blog
beijos,
muitas felicidades
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