"Aquilo a que o filósofo chama de desconstrução é apenas, na verdade, num primeiro tempo, um acto relevando da securização semântica mais radical - ela é o materialismo semiológico em acção. Poder-se-ia descrever o procedimento desconstrutivo como um modo de emprego para a outorga de igrejas e castelos do antigo regime metafísico e imortalista nas mãos do Terceiro Estado dos mortais."
"Derrida, un Égyptien" (Peter Sloterdijk)
Sloterdijk diz que com Derrida "o que chega ao seu termo é a viragem linguística ou semiológica a partir da qual o século XX tinha pertencido à filosofia da linguagem e da escrita" e considerando a aptidão da teoria desconstrucionista para se aplicar a si mesma, pergunta se "seria possível que a desconstrução, conformemente ao seu impulso central, seja um projecto de construção que visaria a produção de uma máquina de sobrevivência indesconstrutível." Qualquer coisa como a pirâmide egípcia que só é eterna porque "foi logo construída conforme o aspecto que teria depois da sua derrocada."
Temos no marxismo um exemplo de uma teoria dotada de uma cláusula de actualização automática, pela aplicação a si mesma do seu método crítico, e que teve o destino escolástico que se sabe.
O futuro, simplesmente, não pode ser antecipado. A crítica é tão impotente nesse sentido, quanto o espírito absoluto hegeliano.
A metáfora da Revolução Francesa pode revelar-se bastante irónica, se pensarmos que "as igrejas e castelos" passaram para mãos igualmente privilegiadas e que o Terceiro Estado sucumbiu ao despotismo napoleónico.
O "materialismo semiológico", ao pretender reduzir o espírito a espécies linguísticas ou semióticas, na realidade acaba por erguer apenas uma torre de Babel, cuja forma, felizmente, não é eterna como a dos monumentos de Gísé.
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