domingo, 10 de junho de 2007

O PRISIONEIRO DA ILHA DO DIABO


"A degradação do capitão Dreyfus"


"Perdoam-se os crimes individuais, mas não a participação num crime colectivo. A partir do momento em que o soube anti-dreyfusard, ela pôs entre eles continentes e séculos. O que explica que a uma tal distância no tempo e no espaço, a sua saudação tenha parecido imperceptível ao meu pai e que ela não se tenha lembrado de um aperto de mão e de algumas palavras, que não poderiam ter franqueado os mundos que os separavam."

"Du côté de Guermantes" (Marcel Proust)


Madame Sazerat mudou drasticamente de opinião sobre o pai do narrador, e, apesar de ser uma pessoa amável em extremo, não pôde deixar de lhe mostrar que não lhe perdoava as suas ideias políticas.

Neste caso, todo o partido a favor da revisão do processo de Dreyfus (a cumprir pena na Ilha do Diabo) não se sentia apenas num dos lados do "hemiciclo", mas na única posição conforme à justiça, o que exacerbava consideravelmente o zelo político. Estará aqui, talvez, uma das raízes da subjectiva superioridade moral da esquerda...

E entendo assim a ideia de que é mais fácil perdoar o crime individual. Para este, com efeito, podem encontrar-se atenuantes de todo o tipo na vulnerabilidade do indivíduo, que raramente justifica ideologicamente o seu crime, ao contrário da outra espécie de crime, em que o próprio colectivo nos dá uma aparência de força e de razão.

Por auto-defesa, isso geralmente desperta em nós qualquer coisa de parecido com a má-vontade e o preconceito, aqui, naturalmente, saudáveis.

1 comentários:

Anónimo disse...

oi, adorei o seu blog
beijos,
muitas felicidades