quarta-feira, 13 de junho de 2007

A AMBIVALÊNCIA DE RAQUEL


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"Eu dava-me conta de tudo o que uma imaginação humana pode pôr detrás de um pequeno pedaço de rosto como era o daquela mulher, se foi a imaginação que a conheceu primeiro; e, inversamente, em que miseráveis elementos materiais e destituídos de todo o valor, se podia decompor aquilo que era a finalidade de tantos sonhos, se, pelo contrário, isso tiver sido percebido de uma maneira oposta pelo conhecimento mais trivial."

"Du côté de Guermantes" (Marcel Proust)


Robert via a amante por um dos "lados do mistério", em que a imaginação amorosa e o amor próprio são o único princípio da realidade.

O próprio facto de gastar uma fortuna para obter o que qualquer outro obteria por "vinte francos" contribuía para radicalizar essa paixão e elevar o objecto do amor a alturas acima de qualquer desmentido de ordem prática.

Para Marcel, "Raquel aquando do Senhor" era apenas uma prostituta, porque ela lhe tinha aparecido assim da primeira vez. E o que ele admira é "o poder da imaginação humana, da ilusão sobre a qual repousavam as dores do amor."

E este é o outro lado do mistério.

Como acontece em todo o lado na obra-prima proustiana, mais tarde vamos ser surpreendidos pela evolução da personagem de Robert Saint-Loup, a ponto de termos de voltar a esta paixão para a ver com outros olhos e julgá-la ainda mais independente do seu objecto amoroso.

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