"Não foram os arquitectos e engenheiros navais, cujo saber Sócrates enaltece como modelo, quem levantou as fortificações e os portos de Atenas, mas sim Temístocles e Péricles, que, apoiados no poder da retórica, convenceram o povo da necessidade de realizar estas obras."
"Paidéia"(Werner Jaeger)
Este é o argumento de Górgias, o sofista, em favor da sua arte, o qual não convence o nosso filósofo porquanto se põe a questão do abuso da retórica e que o bom ou mau uso desse poder, dependerá, em última análise, da ideia que se tenha do bem.
Nos dias de hoje, a retórica foi substituída pelas "relações públicas" e pela utilização dos meios de comunicação de massa. A imagem e a encenação da política, mediadas por técnicos especializados, contam mais do que a eloquência, sem impediram (o que acontece muito raramente) que às vezes se estabeleça uma corrente da palavra e que a eloquência desempenhe um papel marginal.
Pode-se assim dizer que a "retórica" mediática se tornou de facto tão poderosa e a questão da finalidade tão dependente da sanção eleitoral, que praticamente deixou de ser pensada, por si mesma, e de influenciar as escolhas, que acabam então por ser motivadas pela auto-sugestão daquela retórica e por um acrítico "estado de graça" favorecido pela legitimidade democrática.
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