domingo, 10 de junho de 2007

O ROMANCE DE IDEIAS



"P - Terão as ideias na ficção um papel subordinado?

GS - Aí está uma questão difícil. Existem romances que qualificaríamos de grandes, mas que vivem do facto do seu conteúdo ideológico e intelectual. Poderia ser o caso de uma boa parte da produção de Thomas Mann. "O Homem Sem Qualidades" de Musil inspira tanto os filósofos quanto os críticos literários. Mas é raro."

"George Steiner - Entretiens avec Ronald Sharp"


Esta ideia do génio ficcional e da criatividade de um Tchekov ou até de um Simenon, especialmente admirado por Steiner, tem uma razão.

Os chamados romances de tese são um exemplo da lógica aplicada à literatura e que lhes é fatal. Tudo é esperado pelo desenvolvimento da ideia.

Mas Musil consegue o prodígio de apresentar os seus conceitos na aparente anarquia de uma criação da natureza. Decerto não encontraremos no seu romance a experiência de um sujeito no tempo, que a própria narração vai transformando num outro.

As personagens de "Os Maias", por exemplo, sofrem todas esta passagem do tempo. O que une os extremos destes caracteres desconhecidos numa mesma pessoa é o romance.

Em Musil, talvez se tenha de procurar na "acção" do intelecto um eco desse efeito do tempo.

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