terça-feira, 19 de junho de 2007

O TRIUNFO DA CRÍTICA


"A força do sexo fraco" (1964-Ingmar Bergman)


O que quer dizer Ingmar Bergman com o título do seu divertimento "A força do sexo fraco" ("All these women")?

Através dos meios do burlesco cinematográfico, Bergman sai do seu trilho metafísico para nos falar da crítica.

Cornelius, o crítico, sujeita Félix, um violoncelista de génio, rodeado do harém das suas amantes, a um verdadeiro assédio para documentar uma biografia.

O artista defende a sua intimidade, com um zelo que não podemos considerar excessivo nos tempos que correm, furtando-se a uma entrevista.

Mas o mundo feminino que lhe serve de colchão contra a realidade é o mundo da devoção mais sentimental que se possa imaginar.

Cornelius, revela-se um aliado natural das mulheres, jogando a cartada decisiva ao impor ao mestre a execução de uma das suas próprias obras, em troca de uma biografia "imortal".

No momento da traição à sua arte, Félix cai fulminado pela musa.

A conclusão irónica de Bergman é que a Crítica acaba sempre por triunfar, passando à posteridade a única versão que conta, a da ficção que sai da sua própria pena.

A força da crítica é, assim, a mesma do sexo fraco. Ambos vencem a realidade e a morte pelo culto.

Reduzindo a profundidade metafísica ao plano dos sentimentos, o agradável odor do incenso pode alcançar a própria solidão gelada das relíquias.

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