quinta-feira, 14 de junho de 2007

A EXPERIÊNCIA ESSENCIAL


Primo Levi (1919/1987)

"Atenção! A partir do momento em que é formalizado, em verso, em rimas ou estâncias, mesmo o maior grito de revolta acrescenta, ele próprio, um mistério de aceitabilidade ao fenómeno.

O segundo passo, o mais difícil, consistia em dizer: "Não, em relação a tudo e contra tudo, eu posso ainda transmitir, comunicar alguma coisa da experiência essencial."

Na massa considerável da literatura do "Holocausto", três ou quatro escritores somente o conseguiram."

"George Steiner: Entretien avec Ronald Sharp"


A passagem à forma significa, não é verdade, que a experiência traumática foi já, de algum modo, dominada, que pode separar-se de nós, ser mantida à distância.

Não se pode aceitar, mas se podemos pensar o trauma é porque ele já faz parte do passado e que só podemos tentar esquecê-lo, reprimi-lo e "escrevê-lo" nos sintomas, com o nosso próprio corpo, ou expulsá-lo de nós pela criação artística.

Celan e Primo Levi, que estão entre os poucos referidos por Steiner como tendo sido capazes de transmitir a "experiência essencial", contudo, suicidaram-se.

Realizaram o milagre e desapareceram.

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