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"Mergulho com o meu tema na noite e no Inverno. Os ventos encarniçados das tempestades que açoitam há dois meses as minhas vidraças nestas colinas de Nantes, acompanham com as suas vozes, ora graves, ora dilacerantes, o meu Dies Irae de 93. Legítimas harmonias! Devo agradecer-lhes. Muitas coisas que me eram incompreensíveis tornaram-se-me claras na revelação destas vozes do oceano (Janeiro de 1853)."
"História da Revolução Francesa" (Jules Michelet)
Sessenta anos depois, num outro cenário de tempestade, o grande historiador procura recriar a Revolução. Ou melhor, procura compreendê-la segundo o modelo que aqui a natureza lhe oferece.
Não são as forças humanas, quando os presumíveis autores deste ou daquele raio de energia são, eles próprios, tragados pela voragem, não é a razão, nem a vontade que podem proporcionar-nos esse modelo.
A História como sujeito não tinha conquistado ainda os espíritos, embora Hegel tivesse descido à terra há mais de vinte anos. Nem o seu mais célebre discípulo, em revolta contra o mestre, tinha completado o seu sistema.
Também não é à interpretação clássica que Michelet recorre. Aqui os deuses antigos nada têm que dizer. Quando muito, uma misteriosa sintonia do homem com o universo que empresta ao vigilante na tempestade os órgãos de um médium.
A revolução como choque de forças cegas, mas em que se distingue, apesar de tudo, num outro plano, a órbita majestosa das grandes entidades: o Povo, a França...
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