A Autoridade consulta a Lei Escrita (Constantino Brumidi)
"A sua marca distintiva (da autoridade) é o inquestionado reconhecimento por aqueles que são chamados a obedecer; nem a coerção, nem a persuasão são necessárias (um pai pode perder a sua autoridade quer batendo no seu filho quer começando a discutir com ele, quer dizer, tanto comportando-se como um tirano quanto tratando-o como um igual)."
"On violence" (Hannah Arendt)
Este raciocínio é cristalino e parece poder servir de norma para definir o conceito de autoridade. Mas logo nos apercebemos de que há qualquer coisa na vida moderna que mina os próprios fundamentos desse fenómeno de "governo do homem pelo homem".
Compreendemos que o saber e o conhecimento, adquiridos pela experiência ou pelo estudo, estão na base desse fenómeno e que são sempre esotéricos quando a autoridade está em causa. Eles são uma espécie de monopólio sacerdotal que se impõe como um carisma, sem necessidade de violência nem de argumentação.
Mas não é por acaso que vivemos na chamada sociedade do conhecimento e talvez seja essa a marca da verdadeira democratização.
No exemplo do pai que argumenta com o filho (que o trata como igual, nas palavras de Arendt) é claro que nem a paternidade, nem a diferença de idades reivindicam qualquer privilégio.
Dá-se de barato que o saber e o conhecimento estão ao alcance de todos, mesmo dos que não atingiram ainda a "idade da razão". E a enciclopédia das enciclopédias, que se abre com um simples clique do rato, pode confundir qualquer adulto que discuta com uma criança. É que um está em frente ao outro, nessa situação, não como pessoa real ou ser político, mas apenas enquanto utilizador da tecnologia.
A informação disponível passa, então, a ocupar o lugar do saber e do conhecimento e a autoridade, sob todas as suas formas, declina na mesma medida.
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