Eça de Queirós na sua cabaia
A vedeta da Casa de Tormes, em que Eça viveu uns escassos três meses a sua epifania serrana, é um objecto estranho que não pertence ao mundo da sátira social que é o dos seus romances.
Não são os livros que vieram da sua casa de Paris, os objectos pessoais, a estante onde escrevia de pé (a cicerone explica-nos que esse hábito se deve aos problemas gastro-intestinais do romancista), não é a rústica mesa onde terá comido o célebre arroz de favas, a vedeta da Casa-Museu é a cabaia, uma espécie de quimono que um amigo original lhe ofereceu e que ficava demasiado larga para os seus ossos.
A cabaia, dentro da sua vitrina, atrai-nos como um farol. É o seu exotismo que confere a tudo o resto um ar de família. Ela é o símbolo de tudo o que Eça não escreveu, do mundo que nunca pôde conhecer, apesar de ser viajado.
Afinal, nenhuma vida é completa sem a sua cabaia.
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