A tomada da Bastilha
"Que entendes tu, diz-me, por esse sentimento de gratidão com que julgas teres-me cativado [...] raciocina melhor, criatura mesquinha, que fazias tu quando me socorreste? Entre a possibilidade de seguires o teu caminho e a de vires em meu auxílio, escolheste a última como um movimento que o teu coração te inspirava [...] Entregavas-te, portanto, a um prazer? Por que diabo queres tu que eu seja obrigado a recompensar-te do prazer que a ti própria proporcionaste?"
"Infortunes de la Vertu" (Marquês de Sade, citado por P. Klossowski in "Sade, meu próximo"
O paradoxo do masoquismo está todo neste raciocínio.
Desde que acreditamos que se pode ter prazer no próprio sofrimento, isto é, quando a natureza e o bom senso parecem enganar-nos tão completamente, somos levados a estender a cínica inquisição à própria "Vida dos Santos".
Donde vem esta "liberdade" do juízo que ataca as mais veneráveis tradições? Sade compreendeu muito bem essa liberdade que resulta do acto de revolta contra Deus.
O homem que responde só perante si próprio corresponde à situação do homem que, em espírito, se libertou da Bastilha.
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