"Les invasions barbares" (2003-Denys Arcand)
Um homem de meia idade, Rémy, vai morrer, com o sentimento duma vida frustrada. Não foi um bom pai, nem um bom marido e, já que é um literato, nem sequer escreveu um livro.
Como no filme de Capra "It's a wonderful life!" (1946), em que um anjo concede à personagem a possibilidade de ver como o mundo seria se ela não tivesse existido, Rémy descobre que, afinal, foi tendo sido exactamente como foi, amando os livros, a música e as mulheres que foi capaz de transmitir aos filhos e aos amigos a fórmula da felicidade.
Pelo meio encontramos o drama dos hospitais públicos que o filho, milionário, sabe, contornando os obstáculos (entre eles um sindicato instalado na sua renda demagógica), à custa da persistência e do suborno, transformar em condições de privilégio para poupar as convicções socialistas do enfermo.
A piedade para com as ilusões paternas vai ao ponto de o levar a comprar a visita de alguns ex-alunos e a mover meio mundo para que o velho não se sinta só.
O título do filme é uma metáfora que exprime o mundo sempre novo e estranho com que um homem que já viveu se tem de confrontar. Os bárbaros também podiam ser a própria doença ou o 11 de Setembro, mas, na verdade, é todo um mundo pessoal que abre fissuras sob o ataque do presente, e é isso a velhice.
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