"O século dezoito foi testemunha do fim da retórica, i.e. do fim duma fé técnica na comunicação. (...) A manipulação consciente das formas era uma das possibilidades, outras fizeram uso da paradoxalização, da ironia e do cinismo. Por outras palavras, o erro comunicacional foi notado e depois adoptado como forma de comunicação. De maneira a evitá-lo, foi cometido deliberadamente. Deste modo uma pessoa tinha a garantia de não ser censurada por não saber o que estava a fazer ou por não apreender imediatamente os meios que tinha à disposição. Foi esta forma que tão bem se adaptou ao Iluminismo."
"Love as passion" (Niklas Luhmann)
Como diz Luhmann, há sentido que se perde quando certas palavras são proferidas. O dito e o não-dito, na relação com outra pessoa, podem ter valores desiguais, servirem a uma e serem prejudiciais à outra.
A incomunicabilidade pode estar no âmago da intimidade. A corrente passa, e é a verbalização que provoca o curto-circuito.
Na era da publicidade e das comunicações de massa, por outro lado, a diferença entre a verdade e a mentira tornou-se uma espécie de jogo semântico. Ninguém toma a mensagem da publicidade a sério (excepto os publicitários) e este reflexo contaminou igualmente a política.
Tal como no século dezoito, entrar no jogo é evidenciar que sabemos o que as palavras valem. Depois da perda da fé nas palavras, verificou-se, naquele século, um regresso à natureza, com o amor romântico,
E é isso que nós já não podemos fazer. Nem no amor podemos já considerar a sexualidade como natureza.
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