domingo, 19 de outubro de 2008

PARADOXOS DA EFICÁCIA




"Esta guerra suja foi travada contra a ETA, mas um terço das vítimas, que incluíram um velho pastor francês, uma adolescente e um casal de ciganos, nada tinha a ver com o grupo. Foi levada a cabo por um bando que se intitulava Grupos Antiterroristas de Liberación, popularmente conhecido como GAL. O grupo foi fundado e financiado pelo Ministro do Interior do governo socialista de Felipe González."

"Fantasmas de Espanha" (Giles Tremlett)


O caso dos GAL ilustra duma maneira exemplar a natureza inumana do poder que, tal como os explosivos e a força concentrada deve ser sempre contido e vigiado.

Não se pode dizer que o PS e o seu secretário-geral fossem particularmente sedentos de poder ou tivessem um espírito anti-democrático. Com o aparelho do franquismo ainda a funcionar, durante a transição política, era simplesmente demasiado tentador não responder ao terrorismo com os meios disponíveis e, aparentemente, mais eficazes.

O resultado, que é muito bem analisado pelo autor da obra citada, foi a corrupção da polícia e a contaminação do próprio Estado. A desmoralização do partido no governo, de que as posições de Felipe González dão uma ideia, e a perda de confiança dos eleitores foi a sanção mais do que merecida.

O conceito de eficácia é simplista, quando aplicado às questões políticas e sociais, porque os efeitos de qualquer medida devem ser analisados no tempo sem esquecer que a percepção sobre ela pode mudar entretanto. A ideia de pôr fim ao terrorismo usando os métodos deste é também fatal para a democracia além de que, por essa via, se atrai mais violência e irracionalidade do que aquela que se visava combater.

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