"Madadayo" (1993-Akira Kurosawa)
Notando uma nuvem de fumo ao entrar, o velho lembra aos seus alunos que é proibido fumar na sala, para logo a seguir se confessar culpado do mesmo vício que faz com que algumas vezes chegue atrasado.
O professor de alemão, com 60 anos, anuncia então que se se vai retirar para se dedicar à escrita.
Com esta anedota e a reacção dos jovens, percebemos por que o mestre se fez amado e durante anos a fio, de facto, até aos 77 anos, quando morre sonhando com um jogo da infância, recebeu a homenagem de um numeroso grupo de fiéis.
De todas as vezes, no seu discurso de aniversário, ele profere as palavras sacramentais: Madadayo (ainda não). Como no jogo das escondidas, ele responde que ainda não está pronto à morte que vem procurá-lo.
O prenúncio de que o jogo está a acabar é representado pelo episódio central do gato chamado Nora, por quem o velho se afeiçoa a ponto de ficar destroçado com o seu desaparecimento, para consternação de todos os amigos.
Essa fraqueza que se transforma em melancolia é como o vício do tabaco: revela a exposição à morte, pois nunca estamos suficientemente "escondidos".
Os antigos alunos sempre o consideraram de "oiro maciço", mas tirando uma alusão ao "Fausto", não sabemos o que é que eles aprenderam de alemão. Mas o mais importante talvez seja o espírito que pairava à sua volta e que fazia os outros sentirem-se em casa.
Esse espírito é difícil de definir, porque mais do que amizade era feito de admiração. E o mais estranho é que nem o amor assolapado a um gato a podia pôr em causa.
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