segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A PREGUIÇA



"É preciso de resto acrescentar que não se pode imaginar quanto, duma maneira geral, o Sr. de Charlus podia ser insuportável, mesquinho, e até, ele tão fino, estúpido, em todas as ocasiões em que entravam em jogo os defeitos do seu carácter. Pode-se com efeito dizer que estes são uma doença intermitente do espírito. Quem não notou o facto nas mulheres, e mesmo nos homens, dotados de notável inteligência, mas atingidos pela nervosidade?"

"Sodome et Gomorrhe" (Marcel Proust)


O carácter, as disposições permanentes da personalidade, impõem assim à inteligência os seus próprios fins, ao sabor das nossas simpatias ou antipatias. Mas este instrumentalismo perderá a sua validade quando as paixões não estão presentes?

A "Natureza" teria criado, assim, um órgão independente das necessidades do indivíduo e que só funcionaria bem quando os homens "estão felizes, calmos e satisfeitos com o que os rodeia"?

Não é de crer que, mesmo nessas situações, quando não se fazem sentir "os defeitos do carácter", a inteligência está sempre ao serviço de um motivo?

É o que ilustra a neurastenia, por exemplo. Não nos faz estúpidos, mas tira-nos a energia.

Alain dizia que não há, talvez, vontades boas e vontades más, mas a vontade e a preguiça.

Pensar mal, nesse sentido, seria uma das formas da preguiça.

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