"Ela também tem consciência, estou certo disso, de que o salão é a única arte de representação da época burguesa que não serve o ego masculino ou a vaidade masculina e que não manipula as mulheres só para gratificação dos homens, como a ópera e o bailado. Os salões são dirigidos, geridos e moldados por mulheres, servem para evidenciar as mulheres e permitem-lhes controlar as coisas."
"Memórias de um economista" (Peter Drucker)
Os salões tiveram grande sucesso, sobretudo, em França. Proust descreve-os como um entomologista, com alfinetadas aqui e ali a esses aristocratas que sabiam conciliar a extrema amabilidade com o absoluto desprezo. Mas não há dúvida que é Madame e não Monsieur Verdurin que pontifica no seu salão.
Drucker compara esta "arte de representação" aos antigos mistérios eleusinos ou minóicos, quando as sacerdotisas "aparentemente fora do palco, controlavam as almas enquanto os vulgares homens dominavam corpos e espíritos."
Este podia ser até um exemplo feliz de como os sexos abordam a questão do poder. E é tentador encontrar nessa diferença o que distingue, por exemplo, a atenção no homem e na mulher. Pertence ao anedotário sexual a capacidade feminina de manter vários focos simultâneos da sua atenção, assim como ( e talvez exista uma ligação desconhecida entre estes dois fenómenos) a multiplicidade das suas zonas erógenas, as quais se encontrariam muito mais concentradas no homem.
Se aproximarmos estes tipos de atenção e esta erótica diferenciada das formas do poder, logo pensamos em como, no homem, são naturais a centralização e a especialização e à mulher o contrário disso, como o tipo de relações que se estabelecem no salão burguês ilustraria.
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