sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O PIOR DOS REGIMES, EXCEPTO...



"Na verdade, ele dá-nos uma caracterização detalhada dos sistemas políticos democráticos, identificando certas condições necessárias (ou pelo menos prováveis) da regra democrática. Estas são, primeiro, a diferenciação interna do sistema político em política, administração e público; segundo, a limitação formal do exercício do poder pela lei; terceiro, a existência de um certo número de partidos políticos e outros mecanismos para o poder se auto-testar e para a manutenção de opções no sistema político; quarto, a implementação de ulteriores meios semânticos (leis do estado, constituições, etc.), pelas quais o sistema político estabiliza os seus subsistemas internos uns contra os outros e se protege da conflação com outras arenas da comunicação social."

"Niklas Luhmann's Theory of Politics and Law" (Michael King e Chris Thornhill)


Poder-se-ia dizer que, segundo a teoria dos sistemas, a principal vantagem da democracia, em relação a todos os outros regimes, tem a ver com a funcionalidade e a eficácia, muito mais do que com quaisquer razões de ordem ética.

À complexidade da sociedade moderna, o sistema democrático responderia com a complexidade da sua diferenciação nos vários subsistemas e do seu mais articulado jogo de equilíbrios.

O ideal da justiça não poderia, de resto, ser perseguido numa sociedade em bloqueio, artificialmente simplificada e incapaz de se adaptar ao seu meio ambiente. Todos os sistemas, em comparação com a democracia, representariam, pois, organizações mais simples que interagiriam com maior rigidez nas situações novas e se veriam, por isso, na necessidade de recorrer mais amiúde à violência.

O mesmo pensamento levar-nos-ia, por outro lado, a reconhecer que a democracia não oferece já qualquer vantagem quando aplicada a sociedades realmente menos complexas, podendo ser, pelo contrário, uma fonte de complicações e de ineficiência.

Também se poderá ver aqui como a questão do poder , até do ponto de vista da técnica da adaptação, é crucial. E um dos trunfos da democracia é precisamente o de limitar a irracionalidade do poder, que é a principal causa da inadaptação e da violência.

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