domingo, 5 de outubro de 2008

O ADMIRÁVEL


Philippe Sollers


"Escrevem-se maus romances sinistros, anda-se à volta, sem entrar, em torno do castelo interior. Existe agora uma caricatura do erotismo, tão pesada e ridícula como a da censura. Existe toda uma má literatura que floresce num mercado controlado por patetas, tendo como princípio fazer crer que toda a gente é dotada para a sexualidade, como para a pintura ou para a música."

"Casanova, o admirável" (Philippe Sollers)


Mas, enfim, M. Sollers, quando a bitola é o prazer, não há maior artista do que o próprio, ninguém que melhor conheça o seu instrumento!

A fraqueza dos discursos sobre um homem como Casanova tem origem na pretensão moralista ou na ignorância da sua arte (por só fazer sentido para nós a "miséria sexual" de hoje).

Mas toda a gente é dotada para o prazer, mesmo os masoquistas. Donde, a sexualidade, aqui, seja muito mais do que o prazer. Sollers não vai mais longe. Repare-se como a palavra amor não se pode aplicar aqui, nem sequer o nome de Eros. Há, de facto, um discurso obrigatório sobre o erotismo, que é o da pornografia. Ele é tão asséptico e insignificante como a personagem cinematográfica de Casanova.

Não a de Fellini, apesar de o cineasta achar o personagem desinteressante, não o reduziu à figura dum atleta do sexo. Entrevemos o que o seu sonho tem de destrutivo e como só podia ter futuro na literatura.

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