"Para o observador americano, acostumado à precipitação para casa à hora de saída dos empregos, estas reuniões de equipa e festas que perduram noite dentro parecem, à primeira vista, profundamente exóticas e inexplicáveis. Nos escritórios da Uedagin não há hora fixa para o final do trabalho, não há ponto, e sente-se relutância em sair antes dos restantes. Ficar até tarde é uma qualidade comum do trabalho no escritório. Em alguns casos, toda a equipa permanece nas instalações, até o último trabalhador ter terminado."
"For Harmony and Strength" de Thomas Rohlen, citado por Peter Singer em "Como havemos de viver?"
Fala-se do Japão, é claro. E Singer justamente observa a influência nestes costumes de fidelidade ao grupo e à empresa dum passado feudal muito recente (ainda no século XIX).
É verdade que esta dedicação do trabalhador é compensada por uma grande estabilidade do emprego que pode ser vitalício, havendo empresas que nunca despediram um único trabalhador.
"Em contraste com um contrato de emprego ocidental, o documento japonês não define os limites ou deveres do empregado, não especifica um salário, nem enumera procedimentos de indemnizações ou queixas, de demissão ou ruptura." (ibidem)
Se esta cultura é compatível com altos níveis de eficiência e de crescimento económico, chegando a ameaçar com a sua concorrência a produção das empresas americanas, baseadas em princípios totalmente diversos, a começar por uma extrema flexibilidade do emprego, que dá lugar, como se vê cada vez mais em Portugal, a uma outra "relutância em sair antes dos restantes", mas por motivos menos éticos, digamos, é porque não existe uma receita para todos os casos.
E dá a impressão que nos meios patronais e governamentais do nosso país se pretende escolher do sistema de trabalho de cada país o aspecto mais na moda ou mais agradável, sem as respectivas contrapartidas e fora do contexto que o explica.
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