segunda-feira, 23 de julho de 2007

O MINUTO DA ELOQUÊNCIA


Maximin Isnard (1755/1825)

"Pergunto à Assembleia, à França, a vós, senhor (designando um deputado que o interrompia), se há alguém que, de boa fé, e no íntimo da sua consciência, queira garantir que os príncipes emigrados não conspiram contra a pátria? Pergunto, em segundo lugar, se há nesta Assembleia alguém que ouse garantir que todo aquele que conspira não deve ser desde já acusado, perseguido e punido? Se há alguém, que se levante!..."

O próprio Vergniaud, que presidia, ficou tão surpreendido com esta forma violenta e imperiosa que deteve o orador e observou-lhe que não podia proceder assim pela interrogação."

"História da Revolução Francesa" (Jules Michelet)


O apelo é de Isnard, deputado provençal que, em 31 de Outubro de 1791, deu voz ao que todos sentiam surdamente. Vergniaud, como diz Michelet, era "uma alma profundamente humana" e inteiramente devotado à Revolução (na verdade, partilhando essa devoção com a que dedicava à bela Mlle. Candeille).

E ele sente naquelas palavras o turbilhão que tudo arrasta consigo, que encontrando eco no coração dos presentes, nem por isso era menos um abandono do leme e uma embriaguez. Mas contrapõe ao orador uma objecção puramente formal.

"Um arrepio percorreu a multidão e, após um breve silêncio, elevou-se um terrível aplauso."

Isnard acrescenta à eloquência e ao seu silogismo mortífero (era evidentemente impossível responder à pergunta), duas armas retóricas de assegurado efeito: a enumeração, que dá a qualquer questão, por mais complicada e confusa que seja uma aparência de ordem e de domínio aritmético (veja-se o uso da enumeração na política chinesa) e a dramatização que personaliza as abstracções, entidades complexas, como a França, ou colectivas, como a Assembleia. E, num golpe de génio oportunístico, servindo-se do próprio facto de ser interrompido para juntar o indivíduo interpelado em cena com aquelas entidades.

Já Cícero perguntava a Catilina até quando abusaria da paciência deles.

Na interrogação está, com efeito, o princípio dos media interactivos. Ninguém pode permanecer passivo.

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