"Natureza-Morta" (2006-Jia Zhang-Ke)
A paisagem grandiosa das "Três Gargantas" não chega a impor-se. Destacam-se no fundo das ruínas como um cenário.
O ambicioso projecto da barragem transtornou a vida dum povo paciente ante as intempéries, que prossegue a sua azáfama, os seus milenários truques de sobrevivência, nos escombros da aldeia que vai ser submersa.
Acompanhamos a peregrinação deste mineiro da longínqua província de Shanxi, em busca duma filha que não vê há dezasseis anos e encontramos a termiteira humana para quem o poder, passada a febre do maoísmo e do "assalto ao comité-central", volta a ser o que sempre foi neste país: uma espécie de Himalaia burocrático donde caem as eternas avalanches.
Se compararmos este "social" degradado, por exemplo, ao do filme de Scola, "Porcos, Feios e Maus", percebemos as grandes diferenças entre os dois tipos de desenraizamento. Aqui a solidariedade pode ser violenta e as mulheres, apesar da prometida "metade do céu", continuam em mitigada servidão.
No final, parece que o nosso mineiro abandona o objectivo que o pôs em marcha. Tendo encontrado a mulher que o deixara naquela altura, "por ser jovem e não compreender", decide voltar às minas para pagar o seu resgate.
Parece um conto taoísta. Um homem procura uma coisa e encontra outra, que era o que secretamente desejava.
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