"Levai a sério a vossa língua! Quem não consiga sentir um dever sagrado nesse sentido, não possui sequer o gérmen donde poderá surgir uma cultura superior. Será isso, isto é, o vosso modo de tratar a língua materna que revelará até que ponto apreciais a arte, com isso se verá até que ponto vos irmanais com a arte. Se não conseguirdes alcançar esse resultado sozinhos, quer dizer, sentir um desagrado físico diante de certas palavras e de certas frases da nossa gíria jornalística, abandonai de imediato as aspirações à cultura."
Na passagem dos séculos, quantas línguas em que se reviram povos inteiros e culturas, cujo brilho apenas podemos imaginar, pelo "cálculo" histórico, como sabemos da existência duma estrela pelo desvio da luz que impõe o seu campo gravitacional, se perderam ou integraram, no melhor dos casos, as línguas sobreviventes?
Mas nada dum "dever sagrado" se sente hoje em relação à língua, em primeiro lugar, porque nada parece haver de sagrado.
A própria tecnologia, ao traduzir tudo em dígitos nos precipita no processo da equivalência geral. Tudo se pode converter noutra coisa, e não apenas o dinheiro.
Existirá então essa impostura que Adorno assaca tanto ao racionalismo como à crítica kantiana de estarmos apenas a decidir segundo uma filosofia da identidade, tendo ficado pelo caminho o que nos é radicalmente estranho, quer seja o mundo, a natureza ou lá o que seja?
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