segunda-feira, 23 de julho de 2007

ÍCARO E A VANGUARDA


"Icarus"
http://www.bewsgorvin.co.uk


"Na Rússia, a ideia da profissionalização - a separação entre aquilo que alguém faz como especialista e a sua actividade como ser humano, a divisão entre o métier público e a vida privada, a concepção do homem como um actor que recita ora um papel, ora outro - foi sempre mais fraca do que no Ocidente."

"O Poder das Ideias" (Isaiah Berlin)


O papel extraordinário da "intelligentsia" russa, como uma verdadeira vanguarda, na transformação cultural desse grande país e na sua abertura às novas ideias que culminaram com a Revolução de Outubro, não foi por ninguém melhor observado, tanto quanto sei, do que por Isaiah Berlin.

Num livro dedicado ao poder das ideias que, no caso da Rússia dos séculos XIX e XX, nem sequer eram autóctones, nem os seus apóstolos especialmente coerentes (Berlin cita o exemplo de Turguenev "apaixonado e eficiente" inimigo da servidão, mas que nunca chegou a emancipar os seus servos, ao contrário de Tolstoi), esta vanguarda intelectual é de uma impressionante eficácia.

Mas percebemos como é que a "sublimação" da pulsão religiosa por via da utopia política pôde confundir de forma tão estrondosa os cálculos de Marx.

E não podemos deixar de ver aqui o efeito acelerador da organização, de acordo, aliás, com a visão leninista.

Só que, neste caso, melhor diríamos precipitação, como no mito de Ícaro.

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