"Simplicius Writing Lesson"- Max Klinger, 1881
Confesso que ao princípio me pareceu uma boa ideia: todos os miúdos com um computador em cima da carteira. Que há de mais democrático e de melhor intencionado, para o bem das cabecinhas?
Mas se a calculadora pode ser uma falsa boa ideia, porque trava o desenvolvimento das capacidades mentais, instigando à preguiça no momento mais sensível, o que dizer do computador?
O que se esconde por detrás desta doutrina tão amada, é uma idolatria, de facto muito antiga, a mesma que pôs Moisés fora de si, ao descer do Sinai.
Hoje, ofuscam-nos as maravilhas da tecnologia, a ponto de cairmos na superstição de que elas se reproduzem a si próprias, e esquecemos que, por muito aparatosa que seja a casca, fosse ela a duma aeronave espacial, daquelas que demoram alguns minutos a passar no ecrã, o importante é a víscera pensante que se encontra no seu âmago.
Rapidamente, quase em alvoroço, como quem cai numa armadilha de olhos fechados, o governo, qual comitiva de outros reis-magos vem adorar a inteligência artificial que, num compreensível desvario, tomou pela inteligência tout court.
Acaso se acredita que a interactividade com um computador vai deixar de reforçar a destruição dos níveis de atenção e de concentração que os mesmos miúdos, ou grande parte deles, já contraíram em casa?
Serão todos decerto mais iguais, mas na distracção e na inibição da inteligência.
A ideia que se aprende melhor brincando chega, assim, a um novo patamar do declínio intelectual.
A nossa salvação está, então, nos "meninos selvagens", perdidos e encontrados, noutras selvas menos sofisticadas. Está nos rebeldes ao sistema de ensino, como, se calhar, sempre esteve.
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