Adolf Eichmann, em Jerusalém (1961)
"É preciso submeter-se às regras da organização para se tornar membro e para assim permanecer. É preciso declarar-se pronto a obedecer a ordens e a aceitar responsabilidades. E no seio duma zona pessoal de indiferença, é preciso igualmente estar pronto a aceitar a mudança permanente dessas condições. É bem conhecido que um tal processo nunca funciona de maneira bem planificada, mas comporta sempre um grau considerável de desvio, de ignorância e até de boicote, e isso não surpreenderá ninguém. O que se revela pelo contrário espantoso é a medida em que se consegue apesar disso normalizar um comportamento muito improvável e que não se poderia esperar num outro contexto."
"Politique et compléxité" (Niklas Luhmann)
Luhmann define o conceito de organização como um tipo particular de formação dos sistemas sociais.
Aquilo que o senso-comum pode verificar dum efeito "transtornante" da participação do indivíduo numa multidão tem aqui uma confirmação teórica, embora sob uma forma mais controlada, no contexto duma organização.
O indivíduo, também aqui, de alguma maneira, deixa de ser ele mesmo, porque o seu comportamento, por influência da organização, passa a não corresponder ao que se esperaria dele.
Claro que isto daria razão aos Eichmann que sempre se defenderam com a obediência a ordens e, neste caso, no seio da mais constringente das organizações, e vem trazer mais água ao moinho da desantropologização deste sociólogo.
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