"- Estás-me a atormentar.
- Sim, estou. Mas não é esse o meu objectivo. Só quero saber uma coisa. Quando enterro em ti estas palavras tal como punhais, o que é que tu sentes? O que é que se passa em ti? Não há aí qualquer coisa que rebenta? Diz-mo! Como um vidro de repente voa em estilhaços, antes mesmo que nos tenhamos apercebido da menor rachadela? A imagem que tu te tinhas feito não foi dispersa, substituída por uma outra, como uma visão da lanterna mágica? Não compreendes então nada? Não me posso explicar melhor, tu é que tens de me dizer...
Basini não parava de chorar."
"Les désarrois de l'élève Törless" (Robert Musil)
Törless, que se julga menos cruel do que o seu camarada Reiting e, em vez de movido por um instinto sádico, satisfazer uma curiosidade intelectual, senão decifrar um segredo metafísico, participa do mesmo ponto de vista "superior" em relação à vítima de ambos, Basini.
Este romance é de 1908, e o menos que se pode dizer é que é verdadeiramente profético.
Nesse ano, o jovem Hitler era ainda um adolescente.
Havia então, já nessa altura, na cultura europeia, um espírito que explica o derrube de todas as barreiras éticas que se ia seguir.
Basini podia ser completamente despojado da sua humanidade, em função de um interesse julgado superior.
O homem encontrava-se, muito antes do nazismo, pronto para todas as experiências-limite.
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