quinta-feira, 31 de maio de 2007

O ÍNFIMO DETALHE


Walter Benjamin (1892/1940)


"Walter Benjamin soube fazer falar melhor do que ninguém aquilo que William Blake, num dito maravilhoso tinha chamado de a "santidade do detalhe". A sua visão anti-sistemática dos objectos específicos, dos artefactos, dos tropos gramaticais, dos lugares urbanos engendra um materialismo que é dialéctico, embora apenas de um modo muito parcial num sentido marxista clássico."

"Les logocrates" (George Steiner)


Steiner chama a esta predilecção benjaminiana um "hiperrealismo visionário".

Já há muito que perdemos a distância média de que fala Musil, em que nos movíamos num mundo familiar, adaptado aos nossos sentidos e à nossa percepção.

Talvez o "ínfimo detalhe" seja uma espécie de átomo do sentido, a partir do qual não é possível mergulhar na realidade das coisas, sem perder o conceito umbilical e sem "perdermos o pé". Compreendo assim a santidade sugerida por Blake: o contacto com Deus só é possível antes da nossa mente fechar o mundo num sistema.

Todos os filósofos anti-sistemáticos, e o maior deles é, sem dúvida, Platão, foram sensíveis a esta ideia de abertura e de suspensão da totalidade.

1 comentários:

Unknown disse...

Talvez tenhamos perdido algo além: perdemos a capacidade de se concentrar em algo por muito tempo. Vivemos num tempo de ansiedade. E por isso mesmo não conseguimos ver que em qualquer parte teremos uma noção do todo. Todos devíamos ser assistemáticos e muito observadores. Porém ninguém para para ouvir a balada do velho marinheiro. Não temos tempo.