Walter Benjamin (1892/1940)
"Walter Benjamin soube fazer falar melhor do que ninguém aquilo que William Blake, num dito maravilhoso tinha chamado de a "santidade do detalhe". A sua visão anti-sistemática dos objectos específicos, dos artefactos, dos tropos gramaticais, dos lugares urbanos engendra um materialismo que é dialéctico, embora apenas de um modo muito parcial num sentido marxista clássico."
"Les logocrates" (George Steiner)
Steiner chama a esta predilecção benjaminiana um "hiperrealismo visionário".
Já há muito que perdemos a distância média de que fala Musil, em que nos movíamos num mundo familiar, adaptado aos nossos sentidos e à nossa percepção.
Talvez o "ínfimo detalhe" seja uma espécie de átomo do sentido, a partir do qual não é possível mergulhar na realidade das coisas, sem perder o conceito umbilical e sem "perdermos o pé". Compreendo assim a santidade sugerida por Blake: o contacto com Deus só é possível antes da nossa mente fechar o mundo num sistema.
Todos os filósofos anti-sistemáticos, e o maior deles é, sem dúvida, Platão, foram sensíveis a esta ideia de abertura e de suspensão da totalidade.
1 comentários:
Talvez tenhamos perdido algo além: perdemos a capacidade de se concentrar em algo por muito tempo. Vivemos num tempo de ansiedade. E por isso mesmo não conseguimos ver que em qualquer parte teremos uma noção do todo. Todos devíamos ser assistemáticos e muito observadores. Porém ninguém para para ouvir a balada do velho marinheiro. Não temos tempo.
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