"Zodiac" (2007-David Fincher)
Se em "Seven" (1995), o serial-killer conduz, do princípio ao fim, o jogo com a polícia e acaba por conseguir soltar na imaginação colectiva a sua ameaça metafísica, aqui temos a história (autêntica) de um criminoso que faz das leis e da usura do tempo o seu escudo para escapar à justiça e confrontar a máquina humana que o persegue com o seu absurdo e a sua inutilidade.
Depois de alguns anos de silêncio (porque se sabia vigiado), Leigh, o "Zodíaco" só tem um crente: um antigo escuteiro, cartoonista do "San Francisco Chronicle". Ele arrisca tudo na sua obstinação por "resolver o caso", impedindo testemunhas e polícias de fechar os olhos e esquecer. E o que é que o move? Ele quer olhar o criminoso nos olhos.
A sua visão ingénua do mundo reclama, mais do que o castigo, a humanização do assassínio. Quando procura Leigh no seu emprego e o olha sem palavras nos olhos, é como se o mal perdesse a sua transcendência e ficasse reduzido àquele corpo desgracioso, àquela ironia protegida, àquele orgulho demasiado humano.
Não importa que o Zodíaco tivesse morrido de um ataque cardíaco antes sequer de ser acusado.
O escuteiro tinha pacificado o seu mundo e podia escrever o livro da sua vida.
A polícia, pelo seu lado, podia ocupar-se de casos com mais actualidade.
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