Alice, "Através do espelho"
"Se, ao olhar um olhar nele víssemos alguma coisa - veríamos um objecto e não um olhar. Nele vemos a nossa própria não-objectividade, a nossa imaterialidade, o nosso sem-fundo. O que nele se reflecte é o sem fundo, o ilimitado. Eis que o olhar reflecte um buraco, um vazio: único espelho que reenvia o não-visível, o imaterial."
"A imagem-nua e as pequenas percepções" (José Gil)
Diz a tradição que o olhar é o espelho da alma, mas isso é apenas uma parte da verdade. A "alma" assoma ao olhar de quem olhamos, mas para se confundir (numa atmosfera, diz o filósofo) com a alma que nós próprios trazemos ao olhar.
Como quando dois rios se encontram ou um rio encontra o mar e as águas se misturam.
A sedução do olhar ( "e o seu poder de irradiar sobre o corpo todo") é a força do vazio que se oferece como molde da nossa própria forma, "no próprio momento em que a faz dobrar."
O olhar sedutor seria, assim, o espelho do nosso desejo, mais longe da imagem real do que a dos espelhos deformantes.
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