"A Greve" de Serguei Eisenstein
A questão do sentido das proporções põe-se, aqui e agora, a propósito de uma greve geral.
Se essa greve não é, assumidamente, pré-revolucionária, nem visa salvar a democracia, opondo-se, por exemplo, a um golpe de estado, justificar-se-á então como um simples aviso aos poderes?
Ora, o ponto sensível é este. Avisa-se o governo de que não pode continuar com uma política lesiva dos direitos e dos interesses dos trabalhadores.
Mas pode-se pôr de lado a questão de saber se são necessárias reformas, implicando sacrifícios para a maioria da população, e se essa política vai ou não em tal sentido, antes de se decidir como defender aqueles interesses?
Recusar todo o tipo de reformas na base do que se chama, imediatamente, um ataque aos trabalhadores e de todos os sacrifícios só porque são exigidos "sempre aos mesmos", pode não ser uma política sindical com muito futuro, mesmo se é fiel a um passado que se revê numa tradição corporatista.
A greve geral, nestas circunstâncias, decretada fora de um perigo iminente e sem que se veja, dentro do regime político-económico em que vivemos, qualquer alternativa, é o corporatismo alçado a princípio político.
Fica em aberto uma apreciação de outro tipo e que é sobre o papel objectivo de uma greve geral numa sociologia de massas.
Parece-me que a descredibilização geral da política e a improvável permeabilidade de uma sociedade consumista a qualquer discurso de austeridade, são, eventualmente, geradoras de uma energia explosiva que, noutros países europeus, não pode já ser canalizada por "greves de aviso".
Por isso, em Portugal, o efeito de amortecimento e de controle da violência pode bem valer os custos de uma greve geral. Mas é sempre pensar a curto prazo.
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