quinta-feira, 10 de maio de 2007

DO ALTO DA PIRÂMIDE



Quando voltamos, depois de algumas décadas de ausência, a encontrar os amigos e aqueles que foram durante um tempo companheiros de um exílio do mundo, nalgum quartel africano, todos somos como Marcel, o narrador de "Le Temps Retrouvé", regressado de uma longa convalescença para reconhecer, nos antigos salões, sob as máscaras do tempo, o jovem perfil deste e daquele.

E o sentimento que a todos se impõe, mais do que a alegria do reencontro ou até a inescapável nostalgia, as quais, decerto, vêm na sua euforia ou timidez marcar presença, é o de que todas as diferenças físicas e psicológicas e as de temperamento, a própria polaridade das simpatias espontâneas e das inexplicáveis antipatias, tudo se esbate, tudo perdeu o relevo que tinha antes, face a uma nova igualdade, a uma espécie de solidariedade trágica, que é a consequência de nos vermos uns aos outros do alto da pirâmide do tempo como um punhado de resistentes que cercam as areias do deserto.

0 comentários: