"Crer é uma coisa, ter a vontade de crer é uma outra. No primeiro caso, vive-se feliz em Deus; no segundo, pensa-se nele. A consciência transformou o absoluto numa função do desespero. Muito poucos mortais podem viver em paz, em bom entendimento com Deus. Um conflito insolúvel engendra uma decepção metafísica que tem por consequência imediata a paixão na imanência. Eu não explico de outra maneira a sede de poder de Nae Ionescu (*) e o estranho equívoco da sua paixão política."
"Solitude et destin" (Émil Cioran)
É assim. Não crê quem quer. Cioran, que considera a lucidez uma maldição, não sabe o que fazer com o pensamento da transcendência.
A embriaguez pela simples existência que este programa sugere é confundida por essa espécie de niilismo mimético a que se devotam alguns "anjos caídos", como o professor Ionescu.
É outro caminho para encontrar o mal no mundo. Hannah Arendt fala-nos daqueles que não conhecem o diálogo interior de que vive o pensamento. Cioran dos metafísicos desiludidos que parecem crer na política.
(*) Professor de extrema direita (1890/1940) que exerceu uma influência nefasta sobre os intelectuais da geração de Cioran. (nota de Alain Paruit)
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