quinta-feira, 3 de maio de 2007

ERA UMA VEZ A NOITE ANTIQUÍSSIMA...



O excelente programa de António Barreto, "Portugal - um retrato social", a passar na RTP1, é um momento da nossa consciência colectiva.

É preciso que a percepção que todos temos da mudança encontre nesse espelho que o sociólogo coloca diante de nós a sua nítida verificação, para percebermos até que ponto mudámos.

No episódio "Igualdade e Conflito", atinge-se o nervo daquilo a que temos de chamar, à falta de melhor, uma crise de identidade.

Quando vemos que o passado deixou de nos propor um modelo viável e que tudo tem de ser inventado e experimentado no próprio núcleo da sociedade, nas relações entre pais e filhos, então é porque já estamos muito "longe de terra".

O fenómeno mais impressionante nessa nova situação é, entre os jovens, a cultura da noite, misto de rito iniciático e laboratório da reestruturação social.

Nada é mais revelador do que a impotência desses progenitores que, numa tentativa de limitar os riscos, num oceano em que a droga e o álcool são como os recifes de Cila e de Caríbdis, vão esperar os filhos, de madrugada, à saída das discotecas.

Que não adianta moralizar, já concluíram todos esses pais.

O direito dos jovens de tomarem o destino nas suas mãos, mesmo antes de atingirem a maturidade psíquica e uma personalidade social, está aí para ficar, para o bem e para o mal.

Esse direito não foi decerto uma conquista, mas antes uma consequência necessária da liberdade e do maior poder económico das famílias.

E mesmo se é mais uma maldição do que uma benesse para muitos jovens, só pode significar que a adolescência vai acabar mais cedo e que a noção de responsabilidade ligada a certas condições físicas e psíquicas está em vias de passar a incluir o homem precoce.

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