René Descartes (1596/1650)
"O eu que conduz a dúvida e que se reflecte no Cogito é tão metafísico e hiperbólico quanto a própria dúvida em relação a todos os seus conteúdos. Não é por assim dizer ninguém."
"Soi-même comme un autre" (Paul Ricoeur)
O passo decidido, quase militar, com que avança a argumentação cartesiana deslumbra-nos até o ponto de não reconhecermos o óbvio.
Quando o filósofo se propõe "seriamente e com liberdade destruir todas as minhas antigas opiniões" ("Méditations métaphysiques", citação de Paul Ricoeur), lança-se numa aventura que seria impossível nos dias de hoje, depois da desintegração do eu, do positivismo e da psicanálise.
É o grande momento do Sujeito, que à imagem de Deus, julga poder recriar o mundo pensado por uma acto da vontade, sem ver a própria sombra reflectida nessa recriação.
É certo que Descartes advertiu a hipótese de ser enganado, na ideia do "malin génie", mas para a repelir por não ser conforme à perfeição divina a ideia de ser enganado pela própria razão.
Porque o podemos conceber é que deixámos para trás a idade teológica.
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