"Se a pergunta "Por que é que as regras da lógica são aplicáveis à realidade?" pretende erradamente significar "Por que é que as regras da lógica se adequam às coisas e aos factos do nosso mundo?", então a resposta será que a pergunta parte do falso princípio de que elas se podem adequar, e se adequam efectivamente, a esses factos, quando não é, na verdade, possível predicar das regras da lógica que elas são "adequadas aos factos do mundo" ou "inadequadas aos factos do mundo". Não é possível fazer essa predicação, do mesmo modo que não seria possível fazê-la em relação ao Código da Estrada ou às regras do xadrez."
"Conjecturas e Refutações" (Karl Popper)
O que não quer dizer que as regras do Código da Estrada, por exemplo, sejam arbitrárias, visto que têm de ter em conta tanto a psico-fisiologia do condutor quanto alguns aspectos do mundo físico e do ambiente artificial.
Este realismo mínimo não é o mesmo, claro, que uma descrição do mundo.
Poderíamos, como morcegos numa caverna (desculpem-me a variação platonizante), aprender a evitar os choques com as paredes e com os outros quirópteros, sem com isso estarmos mais perto de descrever a caverna e ainda menos a sua envolvência.
Por isso, a lógica é absolutamente verdadeira consigo mesma e passível de um progresso ininterrupto no sentido da complexidade e da sua coerência interna.
Mas a única informação que através dela podemos ter da realidade é exploratória, como se aprendêssemos a voar entre as estalactites mais finas.
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