"Train to nowhere" (ustrainsnow.com) |
A relação de forças na CP está em vias
de mudar. Os homens que põem a andar os comboios estiveram sempre tão
conscientes do seu poder de parar a empresa, (o que é relativamente fácil para
um grupo tão pequeno e especializado), que os gestores da CP devem ter tido de contar
como despesa corrente cada greve dos maquinistas e a mímica duma resistência
pro-forma para se justificarem perante o governo, já que se trata duma empresa
pública (ou, mais eufemisticamente falando, duma Entidade Pública Empresarial).
Um sintoma dessa mudança, para além da
política austeritária que nos está a ser imposta, foi a interpretação que o
respectivo sindicato se viu na obrigação de prestar ( mais para os seus
associados do que para o público em geral ) perante o anunciado atraso no
pagamento dos salários de Dezembro. Em resumo, em vez de se justificar mais uma
greve, tentou-se afastar qualquer hipótese da empresa se encontrar em
dificuldade, dando-se como adquirido que
os défices estarão sempre, por natureza, cobertos pelo orçamento do Estado.
Não há nenhuma organização, seja ela a
mais necessária e de maior interesse público, como é o caso dos sindicatos, com
o seu, devidamente regulado, direito à greve, que esteja livre de ultrapassar um limite que pode
ser legal ou de simples bom-senso.
Pois uma coisa a que é difícil
resistir é a de usar todo o poder que se tem para obter vantagens para si
próprio ou para os seus. Não se espera, por isso, que a força das organizações
se auto-contenha virtuosamente. Compete à lei fixar os limites e fazê-los cumprir.
É óbvio que o Estado falhou no caso da
CP e que o poder dum dos sindicatos da empresa ultrapassou os limites do razoável. Em Portugal, os trabalhadores têm tão poucas vezes oportunidade de abusar do seu poder, sendo quase sempre o contrário que acontece, que este exemplo não pode ser edificante para ninguém.
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