Karl Popper (1902/1994) |
"(...)
os pensamentos não podem continuar perpetuamente de pé mais do que os soldados
na parada, no verão; quando têm de esperar demasiado tempo, perdem conhecimento
e desmoronam-se."
"O Homem
Sem Qualidades" (Robert Musil)
Aquilo a que Popper chama de Mundo 3, ou mundo das ideias objectivas, sem
quem o "ponha em movimento" jaz por terra, "sem conhecimento", como o soldado
sob o golpe do sol, ou como uma máquina desmantelada.
Mas não é só. Logo que alcançamos uma
ideia, temos de "sacudi-la" e "sacudirmo-nos", ou acabamos
por só nos podermos referir a ela como passado e coisa morta. Não é só o
confronto com o mundo dos outros que lhe faz falta, confronto que a torna
outra. É sobretudo o corpo (outra palavra para a inspiração) que lhe faz falta.
Outra metáfora é a da bicicleta. Não
pode parar sem cair. Mas o que significa "parar" no caso do
pensamento? A ideia começa por um movimento do nosso corpo (é isso que a torna
única e ideia original, em vez de cópia sem vida). Como é a infância que
"fornece" a poesia, sempre que a ela temos acesso.
O momento do corpo na ideia não ocorre
voluntariamente e perde-se logo a seguir. É por isso que não podemos guardar as
ideias num cofre, nem mantê-las vivas sem voltar a "senti-las". Esse
é o momento da compreensão por que vivem as ideias.
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