sábado, 3 de dezembro de 2011

AS IDEIAS NA PARADA


Karl Popper (1902/1994)


"(...) os pensamentos não podem continuar perpetuamente de pé mais do que os soldados na parada, no verão; quando têm de esperar demasiado tempo, perdem conhecimento e desmoronam-se."


"O Homem Sem Qualidades" (Robert Musil)



Aquilo a que Popper chama de  Mundo 3, ou mundo das ideias objectivas, sem quem o "ponha em movimento" jaz por terra,  "sem conhecimento", como o soldado sob o golpe do sol, ou como uma máquina desmantelada.

Mas não é só. Logo que alcançamos uma ideia, temos de "sacudi-la" e "sacudirmo-nos", ou acabamos por só nos podermos referir a ela como passado e coisa morta. Não é só o confronto com o mundo dos outros que lhe faz falta, confronto que a torna outra. É sobretudo o corpo (outra palavra para a inspiração) que lhe faz falta.

Outra metáfora é a da bicicleta. Não pode parar sem cair. Mas o que significa "parar" no caso do pensamento? A ideia começa por um movimento do nosso corpo (é isso que a torna única e ideia original, em vez de cópia sem vida). Como é a infância que "fornece" a poesia, sempre que a ela temos acesso.

O momento do corpo na ideia não ocorre voluntariamente e perde-se logo a seguir. É por isso que não podemos guardar as ideias num cofre, nem mantê-las vivas sem voltar a "senti-las". Esse é o momento da compreensão por que vivem as ideias.


0 comentários: