sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

OS VISIONÁRIOS DE SOLARIS

"Solaris" (1972, Andrei Tarkowsky)

 
O desespero de Burton, em "Solaris", de Tarkowsky, por não conseguir transmitir aos "terrestres" a sua experiência ( o seu relatório sobre as suas visões  tornou-se tema de chacota), não é o mesmo do crente no meio dos cépticos ou dos indiferentes.

O filme que ele submeteu ao conselho de peritos que julgou o caso foi o melhor argumento contra a sua versão dos factos. Ele tinha "apenas" filmado nuvens, mas não foram nuvens que vira. A sentença não se fez esperar: influência do campo magnético de Solaris associada a uma depressão psíquica. Ninguém pensou que a humanidade encontrara uma nova fronteira.

Alguns anos depois, perante o impasse do projecto, prepara-se uma nova missão para avaliar a situação. Kris Kevin (um psicológo!) viajará até ao "planeta oceânico", mas ele próprio sucumbirá às alucinações sofridas por Burton.

Podia comparar-se a situação de Burton à do primeiro crente em Deus. Imagina-se que, tal como a linguagem natural não pode ter sido fundada pelo indivíduo, tampouco a religião o pode. O crente, mesmo sozinho, faz parte duma comunidade que não precisa de estabelecer as provas de existência do seu deus, nem criar um facto linguístico novo.

Burton, pelo seu lado, só tem a sua verdade, "verdade em que ninguém crê". E a angústia dessa situação faz dele um exilado da convivência humana. A missão transformou-o num extra-terrestre.

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