"Solaris" (1972, Andrei Tarkowsky) |
O desespero de Burton, em
"Solaris", de Tarkowsky, por não conseguir transmitir aos
"terrestres" a sua experiência ( o seu relatório sobre as suas
visões tornou-se tema de chacota), não é
o mesmo do crente no meio dos cépticos ou dos indiferentes.
O filme que ele submeteu ao conselho
de peritos que julgou o caso foi o melhor argumento contra a sua versão dos
factos. Ele tinha "apenas" filmado nuvens, mas não foram nuvens que
vira. A sentença não se fez esperar: influência do campo magnético de Solaris
associada a uma depressão psíquica. Ninguém pensou que a humanidade encontrara
uma nova fronteira.
Alguns anos depois, perante o impasse
do projecto, prepara-se uma nova missão para avaliar a situação. Kris Kevin (um
psicológo!) viajará até ao "planeta oceânico", mas ele próprio
sucumbirá às alucinações sofridas por Burton.
Podia comparar-se a situação de Burton
à do primeiro crente em Deus. Imagina-se que, tal como a linguagem natural não
pode ter sido fundada pelo indivíduo, tampouco a religião o pode. O crente,
mesmo sozinho, faz parte duma comunidade que não precisa de estabelecer as
provas de existência do seu deus, nem criar um facto linguístico novo.
Burton, pelo seu lado, só tem a sua
verdade, "verdade em que ninguém crê". E a angústia dessa situação
faz dele um exilado da convivência humana. A missão transformou-o num
extra-terrestre.
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