sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A MORAL DOS ARQUIVOS


(Helmut Schmidt)

"(...) Penso ser para nós alemães decisivo que quase todos os nossos vizinhos – e para além disso quase todos os judeus no mundo inteiro – se recordem do holocausto e das infâmias que aconteceram durante a ocupação alemã nos países da periferia. Não está suficientemente claro para nós alemães que provavelmente entre quase todos os nossos vizinhos, ainda por muitas gerações, se mantém uma desconfiança contra os alemães."

(Helmut Schmidt, em 4/12/2011, no Congresso do SPD)


O antigo chanceler alemão, a propósito da crise europeia, lembra a verdade histórica e a verdade moral em que a Alemanha surge à pior luz possível.

Sendo o sentimento de culpa uma das molas mais activas da cultura judeo-cristã, Helmut Schmidt, apesar de nonagenário, está certo de tocar uma corda sensível em quem o escutou e em quem o lê.

Se a memória dos homens, com os seus lapsos e a "hibernação" egoísta a que nos habituou ao longo da história, fosse ainda a mesma, o sobressalto moral que pretendeu provocar com o seu discurso de Berlim, tinha algumas probabilidades de acontecer.

Mas a memória dos homens está a passar para todo o género de suportes, para uma "nuvem" que, só ela, deterá o sentido da história, e essa tendência não pode deixar de ser acompanhada por uma alienação, muito diferente da descoberta por Marx. Se um "apagão" geral nos roubar essa memória, é o homem que será "descontinuado".

O chanceler tem toda a razão, mas já não se confronta só com a memória curta dos povos. Como se pode responder identitariamente com um arquivo sem medida humana e com esta nova “insustentável leveza”?

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