Um livrinho que me chegou às mãos
sobre a URSS da década de 50, depois da morte de Staline, veio 'nuançar' a
ideia de um regime condenado a falhar por assentar numa ditadura de burocratas
incompetentes (tese que devia ser comparada com a da competência dos banqueiros
na presente crise). O caso da China está aí como contra-exemplo.
Em 1959, data de publicação da resenha
de Jean Marabini, a URSS vivia um momento de optimismo geral (era o tempo em
que parecia possível ultrapassar os EUA), com realizações espectaculares em
vários domínios e um relativo abrandamento da repressão política. Nada fazia
adivinhar a mais célebre das implosões, apenas três décadas depois.
Apesar disso, podemos hoje pensar que
foi o próprio triunfo do sistema, e o desenvolvimento económico e social que
possibilitou, a ditar o seu destino. As tensões políticas e a questão das
nacionalidades tornaram-se problemas incomportáveis fora da ditadura mais
estrita. Staline, nessa via, tinha ido tão longe quanto era possível e a
experiência não podia ser repetida. Gorbatchev foi o homem que oficialmente
abriu uma caixa de Pandora que já tinha sido aberta pelas mudanças na sociedade
soviética.
Um dos argumentos mais utilizados
pelos que ainda "nāo fizeram o luto" é o de que a queda da URSS se
ficou a dever ao que chamam de "cerco capitalista". E é um argumento
aceitável se o libertarmos duma certa paranóia. Porque a competição com os EUA,
em matéria de armamento e na corrida espacial, representava um peso colossal na
economia do país. Mas, ironicamente, o desenvolvimento que esse esforço na
realidade travou foi, na verdade, mais uma moratória para o regime.
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