Rainer Maria Rilke |
"A
natureza é aqui o produto planificado da indústria florestal; os armazéns bem
alinhados duma fábrica de celulose (...)"
"O Homem
Sem Qualidades" (Robert Musil)
A atracção pelo espectáculo do mar
talvez derive de o sabermos ainda natureza, natureza em que as criações do
homem são como uma casca de noz abrindo caminho na mecânica das forças.
Os que só conhecem a cidade e a
natureza aprisionada dos parques e jardins e que, à noite, vivem sob o céu da
luz artificial, vivem numa espécie de placenta que os protege do impessoal e do
não-humano.
Esse meio protegido é dotado do seu
próprio universo, com galáxias e "buracos negros" e o infinito da
matemática. A contemplação desse universo é uma experiência estética inestimável.
Mas o encontro com aquilo a que Rilke
chamava o Anjo é, aí, tornado
inacessível. "Pois que é o Belo
senão o grau Terrível que ainda suportamos e que admiramos porque, impassível,
desdenha destruir-nos? Todo Anjo é terrível." ( 1a. Elegia)
O mar embala-nos e adormece a nossa
inquietude. Na verdade, "desdenha destruir" o nosso paraíso
artificial.
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