quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O ANJO



Rainer Maria Rilke


"A natureza é aqui o produto planificado da indústria florestal; os armazéns bem alinhados duma fábrica de celulose (...)"


"O Homem Sem Qualidades" (Robert Musil)



A atracção pelo espectáculo do mar talvez derive de o sabermos ainda natureza, natureza em que as criações do homem são como uma casca de noz abrindo caminho na mecânica das forças.

Os que só conhecem a cidade e a natureza aprisionada dos parques e jardins e que, à noite, vivem sob o céu da luz artificial, vivem numa espécie de placenta que os protege do impessoal e do não-humano.

Esse meio protegido é dotado do seu próprio universo, com galáxias e "buracos negros" e o infinito da matemática. A contemplação desse universo é uma experiência estética inestimável. Mas o encontro  com aquilo a que Rilke chamava o Anjo  é, aí, tornado inacessível. "Pois que é o Belo senão o grau Terrível que ainda suportamos e que admiramos porque, impassível, desdenha destruir-nos? Todo Anjo é terrível." ( 1a. Elegia)

O mar embala-nos e adormece a nossa inquietude. Na verdade, "desdenha destruir" o nosso paraíso artificial.

0 comentários: