domingo, 4 de dezembro de 2011

RESTAURO E QUEDA





Estou no velho café "Chave D'Ouro", na Batalha. Tenho em frente o restaurado "Águia D'Ouro", que já foi cinema e café camiliano e que agora, em vez da águia, tem a sigla B&B, que tantos serviços tem prestado, lá fora,  ao turista de baixo orçamento. Afastados os andaimes e a rede que escondia o trabalho de restauro, a cidade tem mais uma nova fachada.

Mesmo ao lado, está o defunto cinema Batalha, um dos mais populares ( há até uma expressão para exprimir uma coisa que já não é notícia: "foi no Batalha") e que durante muitos anos foi lugar de peregrinação para os cinéfilos, por causa das suas "matinés clássicas".

Ao contrário do seu ex-émulo do lado, não lavou a cara e atraiu, com o seu abandono, os abutres do urbanismo que espreitam a ruína iminente dos edifícios ( para falar dos que se pautam por um princípio pretensamente utilitário: o de condenar o espaço "morto"; na verdade são uma espécie de agências de "rating" que tratam como lixo crescentes áreas da cidade), já o marcaram de morte. Ao longo de toda a fachada, além dos inevitáveis "tags" - garrafais, pode ler-se: "BECKY & STAGE vs TAKER". Não se sabe se a pichagem tem origem no talento nacional, ou se, também nesse campo, depois da qualificação de lixo com que nos mimosearam as S&P e as Moody's (a esses mastins, juntou-se, recentemente, um mastim chinês), passámos a destino dos "resíduos tóxicos" da marginalidade europeia.

Espero que a Câmara considere a "despichagem" uma tarefa de terapia colectiva. Um ambiente de bairro degradado não pode deixar de agravar a depressão.


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