Estou no velho café "Chave
D'Ouro", na Batalha. Tenho em frente o restaurado "Águia
D'Ouro", que já foi cinema e café camiliano e que agora, em vez da águia,
tem a sigla B&B, que tantos serviços tem prestado, lá fora, ao turista de baixo orçamento. Afastados os
andaimes e a rede que escondia o trabalho de restauro, a cidade tem mais uma
nova fachada.
Mesmo ao lado, está o defunto cinema
Batalha, um dos mais populares ( há até uma expressão para exprimir uma coisa
que já não é notícia: "foi no Batalha") e que durante muitos anos foi
lugar de peregrinação para os cinéfilos, por causa das suas "matinés
clássicas".
Ao contrário do seu ex-émulo do lado,
não lavou a cara e atraiu, com o seu abandono, os abutres do urbanismo que
espreitam a ruína iminente dos edifícios ( para falar dos que se pautam por um
princípio pretensamente utilitário: o de condenar o espaço "morto";
na verdade são uma espécie de agências de "rating" que tratam como
lixo crescentes áreas da cidade), já o marcaram de morte. Ao longo de toda a
fachada, além dos inevitáveis "tags" - garrafais, pode ler-se:
"BECKY & STAGE vs TAKER". Não se sabe se a pichagem tem origem no
talento nacional, ou se, também nesse campo, depois da qualificação de lixo com
que nos mimosearam as S&P e as Moody's (a esses mastins, juntou-se,
recentemente, um mastim chinês), passámos a destino dos "resíduos
tóxicos" da marginalidade europeia.
Espero que a Câmara considere a
"despichagem" uma tarefa de terapia colectiva. Um ambiente de bairro
degradado não pode deixar de agravar a depressão.
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