sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

MÃE E FILHA


  John Marcus Bindel no papel de Jochanaan
em "Salomé" de Richard Strauss 


Salomé, a heroína de Wilde-Strauss, encontra no prisioneiro de Herodes, o seu contrário, e, cedendo à vontade de poder e ao desejo de vingança, tomando à letra o  "tudo que quiseres", como recompensa de ter dançado para o rei, pede a cabeça de João. Depois de ter sido repudiada por este, possuí-lo-á ao menos como morto.

Na encenação deste vídeo, o poder erótico da princesa é humilhado pelo corpo transfigurado do profeta. A iluminação e o desnível do palco realçam o triunfo da palavra sobre as mais insinuantes modulações do desejo.

A cena com o Baptista é o reverso da que mostra Herodes "perder a cabeça" (na verdade, a sua e a dum prisioneiro que não se podia permitir maltratar, por razões políticas).

Para Herodes ter cedido ao violento capricho da filha de Herodíades, não tendo adiantado nenhuma das suas propostas de substituição, a que Salomé, na ópera de Richard Strauss, sempre respondia com o seu refrão macabro, a ideia dum poder igual a si próprio (como no bíblico pleonasmo do ser referido a Deus),  que a tradição popular traduz no ditado "palavra de rei não volta atrás", surge como uma explicação plausível.

Mas, é esquecer a influência feminina nesta história. Tanto a mãe como a filha queriam a morte de João, embora por razões diferentes. O poder de Herodes, antes de se conformar com a sua identidade própria, tinha que se fazer valer perante as mulheres...

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