John Marcus Bindel no papel de Jochanaan
em "Salomé" de Richard Strauss
em "Salomé" de Richard Strauss
Salomé, a heroína de Wilde-Strauss,
encontra no prisioneiro de Herodes, o seu contrário, e, cedendo à vontade de
poder e ao desejo de vingança, tomando à letra o "tudo que quiseres", como
recompensa de ter dançado para o rei, pede a cabeça de João. Depois de ter sido
repudiada por este, possuí-lo-á ao menos como morto.
Na encenação deste vídeo, o poder
erótico da princesa é humilhado pelo corpo transfigurado do profeta. A
iluminação e o desnível do palco realçam o triunfo da palavra sobre as mais
insinuantes modulações do desejo.
A cena com o Baptista é o reverso da
que mostra Herodes "perder a cabeça"
(na verdade, a sua e a dum prisioneiro que não se podia permitir maltratar, por
razões políticas).
Para Herodes ter cedido ao violento
capricho da filha de Herodíades, não tendo adiantado nenhuma das suas propostas
de substituição, a que Salomé, na ópera de Richard Strauss, sempre respondia
com o seu refrão macabro, a ideia dum poder igual a si próprio (como no bíblico
pleonasmo do ser referido a Deus), que a
tradição popular traduz no ditado "palavra
de rei não volta atrás", surge como uma explicação plausível.
Mas, é esquecer a influência feminina
nesta história. Tanto a mãe como a filha queriam a morte de João, embora por
razões diferentes. O poder de Herodes, antes de se conformar com a sua
identidade própria, tinha que se fazer valer perante as mulheres...
0 comentários:
Enviar um comentário