quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

LENINE INCOMPREENDIDO



"Em 7 de Março, no VII Congresso do Partido, Lenine anuncia àqueles que o acusam de derrotismo, "uma desforra para breve, quando o Exército do povo tiver aprendido o seu ofício."
("URSS", Jean Marabini)


Uma pausa para respirar era necessária para reorganizar o caos em que a guerra e a Revolução tinham lançado o país. Foi isso que significou a paz de Brest-Litovsk, de Março de 1918. "É o momento em que dezenas de milhões de Russos considera Lenine como um traidor, e em que se forja no segredo das consciências, seja a vontade de emigrar, seja a de retomar as armas."(ibidem)

A locomotiva da Revolução pede mais e mais combustível. Depois do golpe dos "socialistas revolucionários", com o assassinato do embaixador alemão e do atentado a Oulianov, o partido bolchevique reforça a sua posição, tanto no interior como além fronteiras, mas à custa de se tornar o túmulo da Revolução: "dominando os homens, o Partido moldado por Lenine afirma o seu poder abstracto, impessoal. Todos os fundamentos da URSS moderna se encontram reunidos, os quais foram estabelecidos na crueldade e no heroísmo, no desprezo do indivíduo como no sofrimento de todo um povo para a sua própria superação." (ibidem)

A 'posteriori' é demasiado fácil dizer que a empresa estava votada ao fracasso. A longo prazo, sabemos que foi condenado como regime e como sistema mundial, mas, como ideia utópica de justiça universal, isso aconteceu muito antes, logo desde os primeiros triunfos do sistema. Nem é justo desvalorizar o heroísmo e a generosidade dos que se atiraram para a fornalha da "locomotiva". Não foram ingénuos como os que o são quando podiam saber. A Revolução de Outubro, ela própria, é que fez das revoluções futuras uma ilusão perigosa.

Há quem diga que a Revolução Francesa foi a única revolução. Se não se tiraram todas as lições desse fenómeno 'horribile dictu', é porque, supostamente, essa revolução triunfou no regime actual e a sua história é a história do poder (e dos seus esqueletos).

A impaciência dos acusadores de Lenine só prova que não viam tão longe quanto ele o que era preciso fazer para salvar o poder. Marabini  diz que outros tentaram seguir os mesmos procedimentos do chefe bolchevique e falharam, por lhes faltar o apoio popular. Caso para dizer que, também aqui,  o desespero não é bom conselheiro.

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