No pequeno vídeo junto, uma cena dum
filme de 1958 de Marc Allégret con Brigitte Bardot ("En effeuillant la
marguerite") é digna daquela outra, mais célebre, de Marilyn sobre o
respiradouro do Metro, que ficou para a história do cinema como um exemplo duma
resposta criativa à censura puritana.
As pernas nuas de Norma Jean aparecem
sem que nem mesmo as feministas possam falar em exploração do corpo da mulher.
Um acidente tão feliz como a passagem do comboio é neutro sexualmente (se
esquecermos a problemática dos túneis de que Hitchcock fez um aproveitamento
genial em "North by Northwest" de 1959).
No filme de Allégret há uma dupla
censura: a do nu, que não chegamos a ver por a câmara ter preferido filmar o
entusiasmo da plateia, e a do rosto que, a pretexto, de traduzir a timidez e a
inexperiência da jovem "stripteaser", constitui, de facto, um segundo
grau do "coberto".
Perante a beleza desse rosto só
podemos pensar que aquela audiência foi "desviada" para o acessório e
que o lapso em que o nu foi por ela entrevisto remetia para um infinito
"encobrimento".
Se compararmos o cobrir/descobrir com
a dialéctica da verdade, é como se a verdade recusasse mostrar-se no momento em
que se revela. A máscara de Brigitte diz-nos que o "striptease" é
apenas um jogo com a nossa imaginação.
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