"Uma
noite, tranquilamente escondido debaixo duma figueira, olhava uma estrela com
essa paixão curiosa de que são presa as crianças, e à qual uma precoce
melancolia acrescentava uma espécie de inteligência sentimental(...)"
"Le lys
dans la vallée" (H. de Balzac)
Antes de podermos pensar a relação das
coisas, na sua objectividade, e como que separadas de nós, só podemos pensar o
seu efeito em nós, como se, de alguma maneira, estivéssemos a elas ligadas. É
isso que explica a conhecida ilusão dimensional da infância. As ruas e as casas
em que vivemos nessa idade parecem-nos, mais tarde, muito mais pequenas.
Alain diz que começamos a conhecer o
mundo ao colo de gigantes que obedecem aos nossos caprichos. Todos tivemos, por
um tempo, a lâmpada de Aladino.
Mas, na realidade, o tornarmo-nos mais
crescidos e depois adultos é um processo de desaprendizagem desse mundo mágico.
O que aprendemos a seguir é um palimpsesto, porque o que sentimos pela primeira
vez permanece coberto pela nova "escrita".
E às vezes, quando menos esperamos, a
nossa inteligência volta a ser sentimental e o mundo a parecer-nos uma
realidade inseparável de nós.
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