"-
Ainda o apanhamos!
Os
dois amigos lançaram o passo, largamente, e Carlos que arrojara o charuto, ia
dizendo na aragem fina e fria que lhes cortava a face:
-
Que raiva ter esquecido o paiosinho! Enfim, acabou-se. Ao menos assentamos a
teoria definitiva da existência. Com efeito, não vale a pena fazer um esforço,
correr com ânsia para coisa alguma..."
"Os
Maias" (Eça de Queirós)
Toda a gente reconhece esta passagem
do final do romance. Os dois amigos correm para o "americano", ao
mesmo tempo que Carlos declara não valer a pena correr para coisa nenhuma.
De todos os grandes projectos do Maia,
e apesar de todos os seus privilégios, contra todos os seus pergaminhos,
salva-se o chouriço. A tragédia incestuosa desmoralizou-o completamente, mas a
necessidade de recolher ainda o leva a fazer uma corrida.
É o fim de toda uma época. Faz lembrar
o mundo provinciano de Tchekov, antes da Revolução. Toda esta gente tem a ideia
que merecia mais da vida, mas o que os confirma, pelo contrário, no destino que
lhes coube é a sua visível vontade de decadência.
A atmosfera risonha da primeira parte,
em que a pena de Eça descobre uma fundamental vacuidade, é a preparação da
queda inexorável duma classe social.
Qualquer paralelo com a situação que
vivemos hoje é abusiva. Não existem, agora, classes moribundas, nem
pergaminhos, nem projectos que se possam dizer da nação ( a não ser, talvez, o
duma Europa que o não sabe ser)
Pelo que, parece não haver motivo
nenhum para nos sentirmos desmoralizados...
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