Auguste Comte (1798/1857)
“A atenção ou é religiosa, ou não é.”
Alain
Aquela é uma das frases que pela sua concisão parecem dizer mais do que o que dizem. De facto, por pouco que conheçamos a filosofia da Alain, não nos é permitido suspeitar de qualquer inclinação de misticismo. Mas tenhamos conta, como pensava Comte, a história do pensamento e que começámos pelo estado teológico que, precisamente, em tudo vê a mão de Deus e dos deuses.
Porque o todo tem que preceder as partes. Antes de conhecermos qualquer objecto é necessária uma teia de explicações para acolhê-lo.
É por isso quase redundante interpretar a atenção no sentido daquela citação. Só se nos pusermos na perspectiva do mito ou da teoria inicial tem sentido falar em atenção.
Segundo Comte, depois do teológico, veio o estado metafísico (da crítica abstracta, da negação), para chegarmos, finalmente, ao estado positivo (o da ciência). Ora, como diz Ricoeur (“Da Metafísica à Moral”): “é a irredutibilidade destas entidades ( como o pensamento, a consciência, o espírito, a liberdade) ao conhecimento positivo que constitui, aos olhos dos nossos jovens filósofos (que respondiam à condenação por Comte da era metafísica), a maior pressuposição de uma filosofia moral digna desse nome. Nesse sentido, “metafísica” equivale simplesmente a antipositivismo.”
A declaração de que a atenção é religiosa significa a convocação do sentido da totalidade (Deus ou o mito de Gilgamesh, ou a teoria do Big Bang), conscientemente, ou não. Continua a ser impossível, como no primeiro estado, a nossa abertura à compreensão do objecto, sem lhe darmos uma cosmologia.
O grau e a qualidade da atenção podem medir-se, assim, pela grandeza do que não se compreende.
E é preciso saltar da ciência para sairmos da mera sistemática. Totalidade não é sistema.
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